quarta-feira, 31 de maio de 2017



Olhos que não suportam a visão
do dia,
à noite não conseguem fechar.


Desencadeada melancolia
sem evidente razão.
E se me fizesse vidente,
de que serviria?


Extremamente cansado e,
egoísta demais para compartilhar minha tristeza.


Fundo com furo
esvazia pelo escorrimento.
Dizem que Murilo é pequeno muro.


Se utopia é horizonte,
daqui o vejo
há um segundo
de distância.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Morreu Arthur.

Além de a felicidade estar fora dos planos da criação, esqueceram de nos dizer que na procura havia todo um caminho. A renúncia está a cada dia mais -"equivocada" talvez seja a palavra- ausente. Tanto sorriso frouxo e perfis e Facebook que as vezes dá para acabar deixando de lado que cada-vida-é-uma e cada-estória-a-gente-conta-para-si, esquecendo as partes que tornam o todo (im)possível. A gentileza (cadê?), como se todos soubessem que o último dia do outro nunca chegará.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Diário de uma noite a dói(s)


E lendo Hilda Hilst descubro mais nomes para as genitálias que jamais pude imaginar;
E ouvindo Janis Joplin percebo uma dor que nenhum homem quis ter;
E numa noite chuvosa, quase-sem-querer permito-me o sentir quase-nada.
Sinto tanto!
Há um homem na nossa cama, um copo de cerveja sobre a mesa.
Tenho que decidir entre o ferro e o fogo: penso incandescente.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Da família nuclear procriativa aos novos arranjos possíveis.

Quando inicio qualquer discussão acerca do tema “família”, torna-se algo da ordem do impossível tentar alguma reflexão livre dos preceitos morais cristãos. No presente trabalho abro mão de qualquer suposta e presunçosa neutralidade, admitindo, por mais que sem gostar, ter um discurso arraigado e atravessado pela moral judaico-cristã. Feito este primeiro esclarecimento dou continuidade a esta tentativa de revisar algumas publicações acadêmicas sobre as novas formas e constituições familiares apropriando-me dos aparatos teóricos das perspectivas psicossocial e psicanalítica, usando a última não como uma guardiã da ordem social (como muitos mal informados insistem) ou abordagem principal de análise; a escolha foi por simples conforto e familiaridade teórica.
            O que há de realmente novo? Acredito que podemos considerar “novo” apenas as reorganizações coletivas sobre o tema “família”, advindos de processos como as novas condições de procriação e mudanças nas formas possíveis de filiação e criação dos filhos. Fenômenos que nos fazem além de espectadores, participantes ativos desta certa continuidade de um processo de mudanças cuja origem remonta o fim do século XVIII com a Revolução Industrial, processo este ainda mais intenso após a volta dos homens dos campos de batalha da Primeira Guerra que encontraram as mulheres se adaptando àqueles campos que antes eram quase que exclusivamente masculino: vida pública e trabalho remunerado. Nesta década que se seguiu vieram os “anos loucos”, uma “nova geração” questionadora e idealista proclamando que aquela fora a “guerra para acabar com todas as guerras”, mal sabiam que dali para frente o processo de guerras estava apenas começando.
            A utopia positiva do século XIX deu lugar a um progressivo individualismo desenfreado e extravagante, gerando acirradas disputas e incrementando debates sobre o lugar dos sexos no mundo. “Tais movimentos resultaram em uma nova organização sociopolítico-econômica” de acordo com Paulo Ceccarelli possibilitando uma discussão absolutamente nova sobre a sexualidade, “principalmente em torno dos perigos de separar sexualidade de procriação”.
            Se pensarmos que o que está para a ordem do humano em sua constituição pouco há de predeterminado além da cultura que o cerca, e é exatamente a partir desta que ele constitui-se pela “tomada do valor do modelo” a partir de processos de identificação; o Um acaba sendo constantemente atravessado e ligado pelo Todo, o sujeito, ator e espectador da sociedade que vai “transformando a subjetividade a partir da possibilidade de recriar padrões introjetados”, como explicita Elizabeth Zambrano, “a diversidade das configurações familiares de outras sociedades permite afirmar que parentesco e filiação são sempre sociais” e a psicanálise muito contribuiu para a legitimização desta diversidade de expressões adotadas pelas famílias, que não deve se restringir e submeter aos dogmas cristãos e merecem sim o estatuto e nomeação de “família”, como brinca Millôr Fernandes: família é um grupo de pessoas que têm as chaves da mesma casa, e ponto. Nomear esses novos arranjos familiares, parentalidades que ainda para muitos é impensável, faz possível que deles se fale, “que nasça uma existência discursiva, indispensável para indicar uma realidade, possibilitando seu estudo e, principalmente, sua problematização”, e esta é a idéia que transpassa por todos os textos: essas famílias existem e funcionam de maneira tão sadia como qualquer outra que se encaixe no padrão heteronormativo e patriarcal; segundo Vaitsman, “... o que caracteriza a família e o casamento numa situação pós-moderna é justamente a inexistência de um modelo dominante, seja no que diz respeito às práticas, seja enquanto um discurso normatizador das práticas.” Ignorando as críticas quanto ao uso do termo pós-modernismo fora do campo da arquitetura, mas mantendo a lógica de raciocínio do autor, temos dever ético de respeitar as repercussões que estas novas formas de construção do mito individual e produção da verdade singular do sujeito trazem a tona seja na solução heterossexual ou na homossexual.
            A questão que mais vejo ganhando destaque quando se fala sobre este tema é a da homoparentalidade, e é exatamente ela que coloca para a antropologia questões que atingem um dos campos mais tradicionais da disciplina, assim como para a própria psicanálise, é necessário seguir esta tendência disso o que comumente chamamos de pós-modernismo de relativizar os termos e dessacralizar, subverter esta lógica que toma como apoio a ordem natural das relações entre os sexos, fazendo impensável qualquer outra configuração de família que não seja composta por um “pai-homem”, “mãe-mulher” e filhos, como vimos há alguns dias ser aprovado (grande parte pela incômoda bancada evangélica ou outros fundamentalistas retrógrados), foi instaurado o Estatuto da Família pela PL 6583/2013, no dia 24/09/2015, definindo e limitando como família a união entre um homem e uma mulher, discriminando ainda mais outros arranjos familiares que não procriam, colocando os laços biológicos de maneira infundada, em um patamar mais alto que a parentalidade social.
            Argumentos dos mais ignorantes e normatizadores são utilizados na tentativa dos moralistas de marginalizar pais e mães homossexuais, travestis e transexuais; até mesmo à própria psicanálise eles chegam a recorrer para afirmar que é necessária a diferença sexual no real do corpo dos pais para que a criança “resolva” seu Édipo, como fez Malafaia em uma entrevista com Marília Gabriela enquanto colocava à mesa seu pedaço de papel apelidado de diploma que deveria corroborar com sua suposta formação em Psicologia... Para desconstruir discursos como os de Malafaias, Felicianos e Bolsonaros dois dos autores lidos fazem uma leitura mais atenta das teorias da sexualidade freudianas e reafirmam que não existe prejuízo nenhum a uma criança por ser criada pelo modelo homoparental, como traz Ceccareli, “as conclusões de um trabalho em pedo-psiquiatria em Bordeaux, França, com 58 crianças que têm pais do mesmo sexo, mostrou que o desenvolvimento psicossexual destas crianças é tão normal quanto o de qualquer outra”, e acrescenta a fala do médico autor da pesquisa, “ao que tudo indica, a homopaternidade não constitui, em si, um fator de risco para as crianças; elas vão bem”, então essa tão aclamada “crise das referências simbólicas” a qual tanto se referem esses que fazem o mal uso da descoberta freudiana, não alteram os processos de subjetivação e essas tão aclamadas “crises” que enchem a boca daqueles que prestam desserviço à sociedade, “longe de provocarem uma desestruturação social, atestam a força do simbólico, da metáfora, e mostram que o problema da homopaternidade não pode ser tratado pelo viés de visões nostálgicas que tentam transformar em normas, soluções que pertencer a organizações sociais, e ordens simbólicas não mais sustentáveis na pós-modernidade”.




Falemos destes novos arranjos... ou pior.



quarta-feira, 24 de julho de 2013


-Ser humano já é difícil o bastante, deixemos de lado os gêneros.

-Tenho certeza de que não viveremos só. Espero que não demore muito a encontrarmos alguém. Até lá, vou aprendendo a conviver comigo.

-O que você procura quando bebe?
-NADA! Exatamente o nada! Já há coisa demais na sobriedade.


(Frutos de um bom papo, para depois ver se sai algum texto.)
"Ninguém escapa o peso de viver assim,
ser assim..."


  A escrita era como um método de elaboração daquilo o que eu sentia e não podia dizer. E agora? Já não mais consigo escrever; tornei-me quase-capaz de dizer as minhas verdades. Não há mais a possibilidade do fingir ser poeta.
 Mas ainda sinto.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ciclo

 Me canso do querer e não sentir; do sentir e não poder. Ter.
Infindável ciclo insatisfatório. Câncer.
 Quando te amo ano, e uma única noite de completude; sinto incapaz de sentir qualquer coisa por outro alguém. Quando amor vai, não volta; vai; apaga. Resta o vazio; a sensação do não-sentir; morte.
 Quero de novo, mais uma vez morrer de amor. Não sinto.
 E quando sinto, volto ao ciclo.
Reconheço teu cheiro.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Gosto de rolar na cama, lembrando como foi, e como queria ter sido. Gosto de gostar, gosto do gozo e da dor de gozar. Gosto de ti, do meu jeito encaixado no teu... E assim, no gosto; desgosto de pensar, pois quero dormir e meu sono foi contigo.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Olhar o céu faz bem. Ainda mais em dias como hoje,
onde fenômenos quase raros acontecem.
Ainda mais para dias como hoje,
onde pessoas fazem falta..
A imensidão do céu faz aproximar as pessoas; que mesmo distantes, estão olhando para o mesmo lugar.

Escrito em 25/12/2012 - Dia em Que Júpiter se escondeu atrás da Lua.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Que merda.

O sol já vai nascer; e esta merda não morreu.
Maldito mundo que morre e nasce todas as manhãs!

Tudo o que era vida já se foi.

 O sol nas costas, o beijo na grama que havia na areia; um sorriso que parecia ser, mas nunca foi; meu.
 Mais de um ano se passou, (doença); ainda vejo as fotos, e parece que nada morreu; só eu e você.
 Perdeu toda a beleza da vida; a carne flácida; drogas. Para mim: Toda beleza ainda há, (sinto na mentira), ainda sentir o que sente em ti.
 Guardado na memória, vivo ainda apenas ela; pois meu eu -Morreu.
 Fixação.
 Pensamentos tão alheios quento meu eu.
 Te amo? Hoje com exclamação. Porém, a certeza vive (morta).


"Pois quando eu te vejo eu desejo teu desejo"

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Súplica de um para dois; para enfim, um.

 Quando nela pensar, não se afaste de mim; por mais que hajam outras vidas além da nossa em nós, enquanto estivermos juntos, somos apenas dois e o mundo, pois te quero completo, assim como te quero entregar-me.
 Não se esqueça amor, tudo o que é pouco não me satisfaz; não há parte alguma que me sacie, pois quero te amar, assim como amo o conjunto, assim como amo o blues que há em nós. E caso se lembre da outra, não me desvie o olhar, pois são dois sentimentos.
 Não te rogo por uma escolha, apenas exijo: Enquanto houver nós, só nós haverá!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Fim.

 Acordo, porém, meu corpo continua moribundo; como se não tivesse levantado.
 Olho o tempo. Que tempo? Tudo parece estático, inseparável da imaginação. Como vim parar aqui? Parece que simplesmente surgi neste novo lugar.
 É como sentir nunca ter mudado, estar continuamente numa posição que nunca houve. O passado nunca existiu, foi apagado da memória; porém, sou aquele mesmo de antes.
 Porra, embriagado, os pensamentos não vem. Mesmo assim, continuarei...

 Saber ter esquecido, porém, lembrar a todo momento; mas simplesmente como uma lembrança boa; como um passado que se foi, e que se tem vontade de viver novamente.
 O amor é assim. Hoje, no vazio, sinto vontade de reviver toda aquela força que construiu e destruiu tudo o que havia em mim. Naquele começo, onde tudo o que se queria era a completude, que parecia completamente possível. E no fim, onde tudo o que fazia era entregar-se; doar-se e dar-se de um modo onde não seria mais possível escapar.
 Mas como tudo na vida, um começo, sem meio, e um fim.
 Fim este, que nunca se acabará; repetir-se-á num ciclo, infindável. Amor, olhar, cheiro, sexo e ódio; sempre juntos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

 Inevitável o querer um apoio; um alguém que num abraço te complete o mundo.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Buraco.

Enfim, estamos sós.
Não há em quem nos apoiarmos...
Pais, Deus, Amores...
são todas tentativas frustradas de apoio.
Onde melhor conseguimos nos apoiar, é nos filhos.. Mas, ao você se apoiar nele, tu abre um buraco nele. O mesmo que tua mãe abriu em ti.
E isso é inevitável.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Cruz.

 Como um corpo vazio, um buraco faltoso; me perco nessas fantasias escapistas, fingindo qualquer tipo de satisfação.
 Carregamos o fado da morte, bastando apenas ter nascido; sucumbindo às luxúrias e mentiras agradáveis, que fingidamente aliviam o pesar de existir.
 Como se já não bastasse a insatisfação, construo também a necessidade de por no outro a falsa ilusão de que possa me dar este objeto que creio ter perdido sem nunca te-lo tido.
 Me fado à frustração.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

La sodomie.

 A música alta já confunde meus pensamentos. O filme que vi, só me remete a ti.
 Tentar te proteger foste o meu melhor pecado, pois só assim compus aquela canção que já estava perdida em algum canto empoeirado de mim; se é que este canto existia antes de ti.
 Hoje, lembranças se engasgam em saudade entrelaçadas no vazio e me perco no que sinto, me perco em teu corpo que uma noite já foi meu. Sim. Creio que naquela noite teu corpo foi por completo meu, terreno, morada; pois graças a esta noite, posso dizer que um dia houve nós.
 Vida só não se vive, nem só de sozinho, nem só de apenas vida; pois em ti descobri o prazer que a dor oculta, a morte que se faz viva na antiga presença da cama do eu sozinho. A dor que se ocultava em mim quando um sorriso teu raiava, e logo depois despontava no adeus.
 A Deus, deixo esta carta; este confesso de um dia meu que morreu quando o sol nasceu.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Cordel que só a gente entende

 -Cão, sua definição limitada à respeito do mundo, onde julgas tudo ser prontamente definido baseado na visão comum, nada mais é do que o reflexo teu, vazio em tudo.
 -Cavalheiro travestido de vadia; saiba que o dia em que todo este teatro que faz à respeito do teu mundo eu fizer real, realmente saberá o que é dor!

 Belzebú estava disposto a tornar fato a promessa de fazer toda aquela dor que as pessoas inventavam em real. E com suas juras feitas, cavalgou diretamente para sua bola de fogo e nunca mais foi visto...




  "Me diz o que é sufoco pequena,
eu te mostro alguém a fim de te acompanhar..."


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Work me Lord.


Não sabe o quanto é difícil
Tentar viver totalmente sozinho
Todo dia eu tento ir pra frente
Mas alguma coisa me empurra pra trás
Querido, alguma coisa está tentando me segurar
Do meu jeito de viver.