quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Doce Vida


Quero que saiba que não colocarei a culpa no meu passado, no meu presente, no cigarro. Sou uma pessoa só; sempre fui eu mesmo, até com máscaras que cobrem meus prantos, nunca deixei de ser eu.  Aceito que duvide de tudo o que vier de mim; exceto minhas promessas e sentimentos.
 Não reclame de mim por acordar todo dia diferente, pois você, a cada instante muda; eu ao menos, permaneço um dia inteiro com o mesmo humor.

Não demore a me ligar.
Os calmantes já fazem efeito.
Se eu não responder,
É que meu corpo já deu defeito.

Não vou culpar o cigarro nem o cansaço.
O que trago no peito veio antes de mim,
Essa dor que nunca chega ao fim

Sou uma pessoa boa
Um dia eu descubro isso.
O dia em que tudo fizer sentido
E que tudo terá um novo início.

Por mais que eu tente me soltar
Algo me agarra por trás,
É o passado querendo me puxar
Para o mesmo poço que deixei antes de saber voar.

Acordo cada dia diferente
Mas todo dia sou eu
Mesmo com máscaras cobrindo o choro
É minha alma num riso abstinente

Cada vez que aprendo a voar
Minhas asas são cortadas
E volto para a realidade
Com essas pessoas que só querem me almadiçoar

O fim já está chegando
Não fiz metade do que quis
A vida não me permite o bis

Boa Noite doce vida
Amarga na mentira
Que se faz verdade com o passado
Enquanto ando por essa avenida.


Após Renata

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Asfixia e Carinho


Meu relacionamento de seis anos desmoronou por entre os meus dedos, sem eu nem ao menos perceber quando foi que eu deixei de me importar.
Eu sei que é difícil acreditar que uma relação de seis anos possa ter dado errado, devido ao duradouro tempo, mas certas coisas já brotam em um terreno instável e irregular e tendem a esmorecer com o tempo, longo ou não. Alguns pesam relações medindo forças entre o que sobrou de bom e aquilo que de ruim lhe foi imposto, mas é complexo definir o que de fato foi bom devido à presença do outro ou apenas devido ao momento, independendo com quem o fosse, o que vale também para a infinidades de momentos tristes a que qualquer relação está sujeita. Contudo, o que de fato importa é o quanto o outro o afasta da sua essência e lhe rouba sua subjetividade, ou mesmo o quanto outrem destrói seus sorrisos e sonhos e o apreende em um emaranhado de culpas e precisâncias, que no fim pouco importam ou valem, mas que mesmo assim aprisionam e amedrontam. No fim, a solidão a dois é asfixiante e você percebe que não sente falta mais de uma pessoa, mas de um alguém que lhe abrigue em dias nublados e que lhe eleve em dias de sol. Um alguém, qualquer alguém.
Então, em uma tarde chuvosa, questiono: de seis, quantos anos foram vividos com amor (amor?) e quantos foram frutos de rotina, necessidade e carência? Já não mais importa, naquele milésimo de segundo, em que um 'sim' ou um 'não' podem mudar o destino das almas para sempre, a escolha foi, enfim, exteriorizada.
Vazio. Vazio. Vazio. Não aquele vazio que pode ser preenchido, mas um vazio que assusta justamente pelo fato de ser impreenchível. Um vazio que guarda a solidão. Um vazio que pressente o medo - medo de não ter. Um vazio egoísta, que insiste em lembrar tudo que foi perdido, e que faz falta. Mas não o que de fato foi perdido, mas aquilo que nunca se teve, apesar da ansia de se ter. Então você lembra de uma voz tranquila em noites turbulentas, um abraço terno em tardes solitárias, um beijo carinho e palavras confortantes, quando nada mais parecia ter sentido. E você, só então, em uma epifania estarrecedora, percebe que você não sente falta do que já não existe, mas do que nunca existiu, do que era só sonho e do que fez aqueles seis anos perdurarem tanto e se esfacelarem em segundos, a ansia desesperadora de ter e a frustação desoladora de nunca ter tido.

Ano Novo


Falta uma hora, mas o minutos se arrastam e carregam consigo toda dor da minha alma.
Pessoas andam a minha volta, discutem assuntos aleatórios e nada parece fazer muito sentido. Estou alheia.
Me sinto só em meio a tantas personagens esperando ansiosas a chegada de mais um ano. Tento me fazer elas, mas não funciona, algo se quebrou: talvez meu rosto esteja limpo demais para fingir uma necessidade de um ano melhor, a dor não vai embora, tampouco o vazio. Meus pensamentos se perdem em um fluxo contínuo, sem máscaras. A moldura de família feliz não me satisfaz, eu quero mais, quero verdade, quero dor.
Os minutos se arrastam e nada muda, a não ser os assuntos que se tornam cada vez mais desinteressantes e asfixiantes. Saio. Não consigo mais segurar a máscara. As risadas já não saem, mesmo que forçadas. Os comentários se calam diante de tanta inutilidade. Me sinto deslocada, me sinto só, e acho que a solidão me cai muito bem, pois estando só consigo adentrar meu mundo de dor e me sinto ao menos confortável para sofrer em silêncio.
Faltam poucos minutos e todos os meus músculos não suportam mais a espera. Termine de uma vez!
É hora! Não consigo proferir palavra alguma de esperança, meu coração está mais silencioso que a morte. Me dou o direito de nada falar, só sentir. As pessoas estranham, me abraçam mais forte e me desejam uma infinidade de sentimentos abstatos, como se pudessem mudar algo. Não, elas não podem. Ninguém pode.
Enfim termina. Alívio. Quero meu quarto, quero Cazuza bem alto, quero Martini: quero meu mundo.
Ainda me limito a ter um único desejo: ele. Mas ele não faz parte desse mundo, acho que nunca fará.
Não importa, às vezes penso que ele é o meu mundo, meu sentido. Assim seja nos novos meses, na nova velha vida de sempre.